segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Falta muito exercício pra eu chegar ao “não-julgamento”, porque o impulso inicial é exatamente este.






Arte de Sue Halstenberg


Eu sempre penso na posição do julgador como uma posição delicada. Porque ele se considera mais inteligente, moralmente melhor, mas, de fato, ele simplesmente subiu num degrau de orgulho de onde pensa enxergar muito bem os demais a quem julga. Porém, seu olhar é limitado pelo seu nível de consciência e pelo tamanho real da sua humildade e vontade de auxiliar o progresso do próximo.


Mas ao dizer isso, eu também necessito de cuidado para não emitir um julgamento sobre o julgador! O que quer dizer que eu também posso subir num degrau de onde acredito enxergar melhor… e meu olhar é também limitado…


Dá pra ver como o tema é movediço, porque ele me coloca diante de um espelho e me pede responsabilidade com as palavras. Me diz que não devo acreditar em tudo que penso.


Li e pensei “Nossa! Faço exatamente isso!” Noto que não julgo as pessoas por sua condição social, financeira ou pelo gênero, mas pelo comportamento com que não concordo. E sei que é julgamento porque me sinto melhor que elas, por não agir igual. Mas o que sei delas? Do que está na sua mente, no seu coração, do que as preocupa naquela hora? Nada!


Falta muito exercício pra eu chegar ao “não-julgamento”, porque o impulso inicial é exatamente este.


Já a superioridade verdadeira, que é toda moral e espiritual, não se mostra nas opiniões sobre os outros, porém se revela pela compaixão, pela felicidade de amar e servir, pela utilidade prática de suas ações em melhorar e facilitar as vidas das outras pessoas. Jamais pelas observações acerca do jeito alheio de ser.


Talvez você (e eu) julguemos exatamente por não conseguirmos ainda compreender. Pela estreiteza da visão. Talvez aquela pessoa que você acha esquisita e não entende, surgiu na sua vida apenas para ser uma oportunidade na sua própria evolução. Não somente para ampliar seu olhar, mas para ensinar-lhe algo ou ajudar de algum modo.


E ninguém sabe, de fato, na jornada coletiva, quem está à frente ou atrás, quem está mais alto ou mais baixo, na subida desta vida. Então, resta-me o silêncio e a confiança.


Confio em que ainda haja espaço suficiente na minha compreensão, para situações que contrastam com meus ideais de amizade e de convivência.


Desejo que meu coração se abra para aqueles que ainda não entendo, para aqueles cujas palavras me assustam ou, mesmo, querem me atingir.


E que estar próximo a eles seja oportunidade de superar minha pequenez, de aumentar o poder da paciência e a visão compassiva que devo alcançar, no propósito de evoluir como Ser.



Rita Foelker

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