terça-feira, 24 de março de 2009

A FÚRIA PELO CONSUMISMO

 




 Consumir é mais próprio das mulheres: estamos deprimidas, chateadas, brigamos com o marido, algo não deu certo, aquela viagem não saiu? O filho tá de chantagem? Vamos comprar! Vamos pro shopping!

Aprendemos, desde criança, a compensarmos. Comprar alivia, compensa frustrações. Então saímos à procura de qualquer coisa que possa amenizar nossas amarguras; pode ser até uma quinquilharia do ‘1.99’. Uma bandejinha, duas bandejinhas... Na saída, pegamos um pacote de bolachas que deverá ser uma gostosura, uns plásticos de fabricação duvidosa, umas tigelinhas horrorosas, enfim, tudo o que não precisamos. E enfrentamos a fila novamente. Pronto! Ficamos felizes e saímos com a conhecida sacolinha branca com a cacarecada misturada. E se formos com uma amiga, melhor ainda: aproveitamos pra descarregar. Pra dizer que a vida tá uma porcaria. E fazemos uma sessão de psicoterapia gratuita! É o ‘Dia do Descarrego!’.

Caso a voltinha no ‘1.99’ não resolva, tem a cabeleireira! Essa é fatal. Cabeleireira é psicoterapeuta de grupo. Mechas ou pintura? Limpeza de pele? Unhas? Massagem? Fofoca da vizinha do prédio? Ótimo: uma tarde de Cinderela; e retornamos numa boa, pelo menos para os próximos dias. Tudo é motivo para o consumo; tristezas, alegrias, comemorações, despedidas, saídas e chegadas.

Mas nosso ‘Mundo Encantado’ são as liquidações! A fúria por consumir sem necessidade. Consumir para aproveitar os preços, mesmo se ficarmos com quatro televisores, dois fogões e mais um som – para colocar na área de serviço... Afinal, tudo a preço de banana!

Não faz muito, eu me considerava a rainha dos balaios de liquidações. Mas tudo bem, eu sempre quis ser rainha de alguma coisa. E os balaios me fascinavam, principalmente o ‘Porto Alegre Liquida’. Remexia, remexia... Quanta porcaria! Era só refugo. Eu só pegava o que ninguém queria: as calças do tempo das cavernas. Cheguei à conclusão que não sou ‘boa’ em balaios: sou atraída para o esdrúxulo. Cansei de comprar sapatos, um número menor, com a esperança de que no inverno meu pé diminuísse. Só pra aproveitar o precinho; pra aproveitar a liquidação. Mas o mimoso tá lá guardado. Ontem experimentei e por pouco não tive gangrena. Não entendo como ainda está lá, o desgraçado. Deve ser um problema sentimental com o sapato, freudiano! Devo amar o tal do sapato.
Mas agora penso ser outra mulher, mais amadurecida, com outros valores. Abri meu armário e tirei ‘trocentas’ coisas inúteis. O armário ficou limpinho.

Mas o teste final sempre será na ‘Feira do Livro’. Ah, meu Deus, tantos balaios, tantos caixotes... Quanta tentação. Contos, crônicas, poesias, romances, ensaios...
Sempre olho para aqueles balaios como quem examina a anatomia de um corpo; há tanta coisa esquisita, tanta gente indecisa... Mas estou decidida a ir atrás do meu poeta: não por ser liquidação ou por haver balaios em profusão; mas porque poeta é uma flecha que encanta, que vai direto ao coração.
E não posso deixar que isso passe em branco, afinal, eu passarei e todos passarão; mas Ele... passarinho!



Taís Luso de Carvalho.[Em 25/09/07] 



 Uns cantam, uns dançam, uns poetam,outros fotografam,pintam e bordam. Muitos consomem. Eu? Nenhum, nem outro. 
Minha nave chega dentro de poucos instantes. Meu planeta não é esse aqui. Gosto de comprar mas o que me fascina é meu auto controle para meus gastos. Não sou pão dura. Se gostar, posso até comprar, mas sem pensar? Nunquinha! 
 Li ”A fúria pelo consumismo” de Tais Luso de Carvalho, e me senti a própria protagonista, no mundo encantado das liquidações, porém adoro “garimpar”...e saio feliz da vida com meus tesouros... 
Estive em Blumenau semana passada.A grande liquidação de verão já tinha acabado e praticamente nada encontrei para ser explorado. E como voltar para casa sem enriquecer minha vida? Eis que dou de cara com uma livraria bem pertinho da praça da alimentação do Shopping. Entrei e comecei a garimpar os livros de bolso. Acredita? Achei dois de Martha Medeiros que não tinha ainda, embora muitas crônicas já tinha lido no jornal. Sai rindo à toa, sabendo porquê. Trem-bala e Non-Stop vieram na minha mala como tesouros. Como tinha acabado de ler Doidas e Santas e antes deste,Coisas da vida,hoje sou só Martha Medeiros. Ah! antes que eu esqueça. Confesso: Adoro 1,99 Ningém é perfeito!

Um comentário:

Tais Luso de Carvalho disse...

Oi, amiga, casualmente estou lendo um da Martha Medeiros: Doidas e Santas. Martha é Martha ou... Marthas são Marthas!

Beijos mil!! Obrigada, querida, te passarei um e-mail amanhã.
Tais Luso