O que eu diria para a criança do passado? Melhor ainda, o que ela diria sobre mim?

 

Arte de Carolyn Blish

Encaro o espelho.
Não vejo nada. Mentira.
Ele me encara.
Ele não encontra nada
além de um tolo cemitério de sonhos.
São os sonhos que enterrei para sobreviver.
Troquei o poeta pelo apartamento.
A bailaria pelo casamento.
O astronauta pela gravata.
Troquei o viver pelo nada.

O que eu diria para a criança do passado?
Melhor ainda, o que ela diria sobre mim? As crianças não mentem.

Encaro o espelho
e vejo apenas o tempo.
Todo o meu tempo,
o tempo todo desperdiçado.

P.S.: O que você quer ser quando crescer viver?

Matheus Jacob