sexta-feira, 27 de março de 2009

Nascemos um para o outro, dessa argila

 



Nascemos um para o outro, dessa argila
De que são feitas as criaturas raras;
Tens legendas pagãs nas carnes claras
E eu tenho a alma dos faunos na pupila...

Às belezas heróicas te comparas
E em mim a luz olímpica cintila,
Gritam em nós todas as nobres taras
Daquela Grécia esplêndida e tranquila...

É tanta a glória que nos encaminha
Em nosso amor de seleção, profundo,
Que (ouço ao longe o oráculo de Elêusis)

Se um dia eu fosse teu e fosses minha,
O nosso amor conceberia um mundo
E do teu ventre nasceriam deuses...

 Raul de Leoni


Continuo com Luiz Coronel, poetisando sobre os deuses nascidos do ventre: "Os filhos" 


"Os filhos são trilhos. Fixos, os dormentes,tocam em frente. Escolhem o caminho. Os filhos são pássaros. Nós, os ninhos. Os filhos são pontes. As águas do tempo fluindo de inesgotáveis fontes. Legamos aos filhos lembranças dispersas O banho de mar, as cobertas sobre o corpo, o beijo na testa. Com os filhos descobres, de um mundo ríspido, a maciez. Ruas,cidades, praias, com eles ao lado, é como se tudo fosse primeira vez. Os filhos são réguas. Tens neles a exata medida do tempo, da vida. Como pode do mesmo ventre tão diversas criaturas? Compões os filhos. Mas não tens a regência das partituras. Além do sangue e da semelhança de traços há um cúmplice mistério no olhar, no abraço. Os filhos partem, regressam e encontram os pratos na mesa Trazem o ritmo de suas vidas, ruidosos discos rútilas incertezas Manhã sem sol, estrela sem brilho, plúmbeos seriam os dias sem o tenso encanto dos filhos"

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