terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Hoje, sou pura MARTHA MEDEIROS




Adoro ler!

E lendo, adoro colecionar frases, pensamentos e tudo mais que para mim tiver valor para repensar. Antes, quando jovem, escrevia tudo em cadernos (quer coisa mais fora de moda?) e agora que me rendi para a modernidade, viciada em orkut, tenho tudinho gravado no meu PC (que facilidade!). 
Pois é, numa das frases guardadas, tem uma de Bertold Brecht, que diz assim:

 “ Todas as artes contribuem para a maior de todas as artes, a arte de viver.” 



Esse é meu caminho: buscar entender as engrenagens da vida e facilitar. 

As crônicas de Martha Medeiros me fascinam. 
Hoje, sou pura MARTHA MEDEIROS, [escritora,ela escreveu, eu, fã, me identifico].

De passagem por Porto Alegre, meu filho me presenteou com um livro Coisas da Vida- Crônicas. Quer título mais sugestivo?
Estou devorando feito uma esfomeada. Leio, releio, sublinho (coisa de não se faz- mas o livro é meu e é para o meu bel prazer)
Então, depois das festas de fim de Ano, do encontro com familiares, regados de carinho, abraços e afetos, acompanhados de muita comida e bebida, e aqueles quilinhos a mais, que nos incomoda barbaridade... Eis que surge de repente, a minha heroína me salvando do calvário.


A crônica “ A importância de perder peso “ caiu como uma luva...



“Emagreça onde tem que emagrecer: no espírito, no humor. E coma de tudo, se isso ajudar.”

 
Como eu gosto de compartilhar vai o texto na íntegra:


Bom apetite! (ops, boa leitura!)


VOU AO SUPERMERCADO E CONSTATO o crescimento do setor de dietéticos. Abro revistas e me deparo com as exigências de se ter um corpo esbelto. As clínicas de cirurgia plástica estão com a agenda lotada de homens e mulheres esperando sua vez para lipoaspirar, cortar, reduzir. A sociedade toda conspira a favor da magreza, e de certo modo isso é positivo, ser magro faz bem para a auto-estima e para a saúde. Mas não tenho visto ninguém estimular outro tipo de dieta igualmente necessária para o bem-estar da população. Encontro suco light, chocolate light, iogurte light, mas pessoas light são raridade.

A sociedade toda conspira a favor da magreza. É positivo ser magro, mas não tenho visto ninguém estimular outro tipo de dieta igualmente necessária para o nosso bem-estar. Vou ao supermercado e constato o crescimento do setor de dietéticos. Abro revistas e deparo com as exigências de se ter um corpo esbelto. As clínicas de cirurgia plástica estão com a agenda lotada de homens e mulheres esperando sua vez para lipoaspirar, cortar, reduzir. A sociedade toda conspira a favor da magreza, e de certo modo isso é positivo, ser magro faz bem para a auto-estima e para a saúde. Mas não tenho visto ninguém estimular outro tipo de dieta igualmente necessária para o bem-estar da população. Encontro suco light, chocolate light, iogurte light, mas pessoas light é raridade.
Muita gente se preocupa em ser magro, mas não se preocupa em ser leve. Tem criatura aí pesando 48 quilos e que é um chumbo. São aqueles que vivem se queixando. Possuem complexo de perseguição, acham que o planeta inteiro está contra eles. Não se dão conta da sua arrogância, possuem certeza de que são a razão da existência do universo. Estão sempre dispostos a fazer uma piadinha maldosa, uma fofoquinha desabonadora sobre alguém. Ressentidos, puxam o tapete dos outros para se manter em pé. Não conseguem ver graça em nada, não relevam as chatices comuns do dia-a-dia, levam tudo demasiadamente a sério. São patrulhadores, censores, carregam as dores do mundo nas costas. Magrinhos, é verdade. Mas que gente pesada. Ser minimalista todo mundo acha moderno, mas ser leve - cruzes! - parece pecado mortal. Os leves, segundo os pesados, não têm substância, não têm profundidade, não têm consistência intelectual: não são leves e, sim, levianos. Os pesados não conseguem fechar o zíper das suas roupas de tanto preconceito saltando pra fora. Não bastasse a carga tributária, a violência, a burocracia e a corrupção, ainda temos que enfrentar pessoas rudes, sem a menor vocação para se divertir. Diversão - segundo os pesados, mais uma vez - é algo alienante e sem serventia. Eles não entendem como alguém pode extrair prazer de coisas sérias como o trabalho e a família. Não entendem como é que tem gente que consegue viver sem armar barracos e criar problemas. Eu proponho uma campanha de saúde pública: vamos ser mais bem-humorados, mais desarmados. Podemos ser cidadãos sérios e respeitáveis e, ao mesmo tempo, leves. Basta agir com mais delicadeza, soltura, autenticidade, sem obediência cega às convenções, aos padrões, aos patrões. Um pouco mais de jogo de cintura, de criatividade, de respeito às escolhas alheias. Vamos deixar para sofrer pelo que é realmente trágico e não por aquilo que é apenas um incômodo, senão fica impraticável atravessar os dias. Dores de amor, falta de grana e angústias existenciais são contingências da vida, mas você não precisa soterrar os outros com seus lamentos e más vibrações. Sustente seu próprio fardo e esforce-se para aliviá-lo. Emagreça onde tem que emagrecer: no espírito, no humor. E coma de tudo, se isso ajudar.


[pág 170-Coisas da Vida]





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