quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Tempo é vida. Algo impossível de ser recuperado





Arte de Andrew Judd


Nos orgulhamos de viver existir em vidas tão corridas. Dizemos de boca cheia. De agenda cheia. De bolso e garagem cheios. Sem percebermos, infelizmente, o quanto nos tornamos vazios.

Nós estamos ocupados demais para viver. O mais triste: reproduzimos e anunciamos este comportamento com um certo orgulho. Como se nos tornássemos mais valiosos por sermos escassos. Porém, é somente a completa transformação da vida em uma sequência de tarefas a serem executadas. Nada além disso.

Até mesmo os mais valiosos prazeres são transformados em deveres. Às 16:00, respondo os meus amigos. Às 21:00, janto. Às 22:00, faremos amor. Os próprios atos de contemplação da vida são transformados em tarefas. Possuem prazos, durações, objetivos. São itens em nossas listas.

Temos horários para amar. Para aprender. Para ganhar. Temos, até mesmo, horários para perder. Afinal, esta desumana agenda necessita de alívios – é claro, igualmente agendados. Às 07:00, eu medito. Porém, apenas até às 8:00. Qual é o sentido de precisarmos de um detox da própria vida?

Ironicamente, nós nos tornamos instrumentos do relógio e não o seu oposto. Os motivos? São infinitos. Uma distorção do termo compromisso; o medo de estarmos sozinhos e em silêncio; e até mesmo alguns hábitos inconscientes. Afinal, tempo é dinheiro, certo?
Ou não. Tempo é vida. Algo impossível de ser recuperado. Uma lição valiosa. Bastante valiosa.

Se não estivéssemos, é claro, ocupados demais para percebê-la.

Matheus Jacob

Nenhum comentário: