Arte de Andrew Judd
Nos orgulhamos de viver existir em vidas tão corridas. Dizemos de
boca cheia. De agenda cheia. De bolso e garagem cheios. Sem percebermos,
infelizmente, o quanto nos tornamos vazios.
Nós estamos ocupados demais para
viver. O mais triste: reproduzimos e anunciamos este comportamento com um certo
orgulho. Como se nos tornássemos mais valiosos por sermos escassos. Porém, é
somente a completa transformação da vida em uma sequência de tarefas
a serem executadas. Nada além disso.
Até mesmo os mais valiosos
prazeres são transformados em deveres. Às 16:00, respondo os meus
amigos. Às 21:00, janto. Às 22:00, faremos amor. Os próprios atos de
contemplação da vida são transformados em tarefas. Possuem prazos,
durações, objetivos. São itens em nossas listas.
Temos horários para amar. Para
aprender. Para ganhar. Temos, até mesmo, horários para perder. Afinal, esta
desumana agenda necessita de alívios – é claro, igualmente agendados. Às
07:00, eu medito. Porém, apenas até às 8:00. Qual é o sentido de
precisarmos de um detox da própria vida?
Ironicamente, nós nos
tornamos instrumentos do relógio e não o seu oposto. Os motivos?
São infinitos. Uma distorção do termo compromisso; o medo de
estarmos sozinhos e em silêncio; e até mesmo alguns hábitos inconscientes.
Afinal, tempo é dinheiro, certo?
Ou não. Tempo é vida. Algo
impossível de ser recuperado. Uma lição valiosa. Bastante valiosa.
Se não estivéssemos, é claro,
ocupados demais para percebê-la.
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