Arte de Catrin Welz-Stein
Um dia eu precisei
amar minha dor. Era o único jeito que tinha de continuar vivendo. Ou aprendia,
ou morreria com ela. Resolvi aprender. Desde então, minha dor é minha
companheira, minha mestra, minha parceira. Deixou de ser minha inimiga no
momento em que eu a olhei nos olhos e aceitei conhecê-la com mais propriedade.
Quis entrar nos mistérios de seus mecanismos com o intuito de poder administrar
melhor as suas consequências.
Eu não a busco, mas,
quando chega, abro as portas para que não force as janelas. Deixo que entre,
ofereço-lhe um café, olho nos seus olhos para que cesse o medo e depois me
empenho em deixar que fique o tempo necessário, até que se dissolva por si só,
pela força do tempo. Quando acolhida, a dor se dissipa aos poucos, e, de
maneira incrível e surpreendente, o que parecia ser tão definitivo transforma-se
em matéria transitória.
Pode parecer-lhe
estranho, mas eu prefiro que ela se acomode na sala. Se eu não permito que ela
entre, ela fica batendo na minha janela, dia e noite, impedindo-me o sono.
Pe.Fábio de Melo
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