Arte de Daria Petrilli
Elas estão em falta. São raras, cada vez mais valiosas. Quem
tem uma, duas, três por perto, cuida. Mas cuida bem. Merecem o maior cuidado as
pessoas que escolhem o que vão dizer, não por terem o que omitir, não porque
querem agradar ou por falsidade, não por falsa inibição ou ausência de
franqueza. Elas são assim porque respeitam as outras. Porque pensam antes de
falar, porque prezam quem vai ouvir. Essa gente deve ser preservada, sim.
Bom senso mesmo, bom senso que não se anuncia mas se pratica
anda escasso, bissexto como a honestidade que anda junto à gentileza. É que
pouca coisa no mundo é mais doce e mais terna que a franqueza, a expressão
generosa de uma alma boa, a sinceridade, essa coisa preciosa que os imbecis
deram de confundir com grosseria e má educação. Imagina! Só mesmo uma mula há
de afirmar que ser sincero é o mesmo que distribuir coices por aí.
Gente gentil de verdade fala olhando no olho e olha bem o
que fala. Não sai espalhando palpite. Não enfia o bedelho onde não é chamada.
Valoriza as próprias opiniões a ponto de pensar antes de panfletá-las aqui e
ali. Tem respeito pelo ouvido e a paciência do outro.
Gente gentil vai rareando
faz tempo.
Essa gente que pede licença antes de entrar, que prefere
ouvir a falar, que diz o que pensa mas o faz com apreço e delicadeza merece ser
cuidada como flor sensível, sob o risco de ser pisoteada pelos gênios
competitivos que transformaram a vida numa corrida de cavalos.
E a vida não é isso, não. Não precisa ser. De violento e
incontornável basta o tempo. A vida há de ser mais leve e mais feliz quanto
mais surgirem pessoas que falem olhando no olho e olhem bem o que falam. Gente
que toma o cuidado de tratar o outro com respeito e com carinho. Que gosta de
bicho e gosta de gente. E que não tem medo de dizer o que pensa mas tem a decência
de pensar no que diz.
André J. Gomes
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