Arte de Alice Mason
mulher discute para
se explicar, discute para se organizar.
Abre suas vacilações
e temores para dividi-los. Não procura obter ajuda de ninguém, conselho de
ninguém, apoio de ninguém.
Está pensando alto,
repartindo suas inquietações.
Às vezes a briga é só
uma sessão de gritos, de agudos, de lamentos.
Mas o homem não tem
paciência. Sua vaidade é maior do que sua paciência.
Diante da mínima
conversa séria, já leva para o lado pessoal, já se sente acusado, já se põe
ameaçado e cobrado. Nem escuta até o fim e se defende.
Identifica-se como
culpado de algo que ainda não sabe o que é e não pagará para ver. Seu anseio
imediato é revidar e se proteger. Se não vira as costas de verdade, vira as
costas dos ouvidos.
Carente, o homem se
posiciona como o centro do mundo, sempre no papel de protagonista. Sofre de
antropocentrismo amoroso. Jura que tudo o envolve e que a mulher não tem outros
anseios, outras preocupações, outras necessidades que não ele.
Se ela está
insatisfeita, entende que é problema dele. Se ela está deprimida, entende que é
problema dele. Se ela está chateada, entende que é problema dele.
Jamais raciocina que
ela pode estar falando apenas de seus problemas e que não é uma indireta,
direta, cilada, armação, ironia, sarcasmo.
Esta é a grande
diferença: a mulher pretende ser ouvida (e se ouvir acompanhada), descarregar a
tensão, espantar as aflições, e o homem se vê atingido pelo desabafo e se
coloca como o provedor de todas as dificuldades do mundo.
Durante a discussão
de relacionamento, a mulher senta no divã enquanto o homem se acomoda no
tribunal.
O homem quer resolver
logo a questão, a mulher quer problematizar para definir a melhor escolha.
O homem acha que está
perdendo tempo com divagações; a mulher acredita que ganha tempo analisando
diferentes perspectivas.
Como se percebe
atacado, o homem não acolhe a catarse com a alegria da cumplicidade, não recebe
a confissão com o entusiasmo da confiança. É um péssimo espelho: atalha,
conclui antes da hora, resume. Irrita a mulher com sua pressa e sua ânsia de
sair logo daquela cena.
Tem resistência em
exercitar hipóteses, possibilidades remotas, vidas imaginárias.
Qualquer dúvida que
vem de sua mulher é sinal de infelicidade. Qualquer crise que vem de sua mulher
é sinal de fraqueza e covardia.
Ele somente se acalma
com certezas. Porém, as certezas não existem. Nunca existiram.
Fabrício Carpinejar.
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