Meninos,
(sim, meninos, porque quando uma seleção é eliminada na Copa do
Mundo, não há mais homens no gramado. Há meninos. Com olhos vazios, sem
rumo e sem qualquer indício de vergonha ou de pudor.)
Escrevo só para agradecer.
Agradecer porque vocês nos fizeram sentir o que há muito tempo não sentíamos.
O nervosismo. A voz embargada. Tensão. Alegria. Nó na garganta. Dor
de garganta. Explosão. Tristeza. Desilusão. Um turbilhão de sentimentos
condensados em 4 semanas.
Agradeço porque vocês conseguiram mexer com muitas emoções que
andavam paradas. Bandeiras na janela por amor a um país (e não apenas a
uma seleção), acima de qualquer outra questão.
Porque vocês fizeram mais do que colocar corações para bater mais
forte. Vocês colocaram corações absolutamente brasileiros para bater.
Agradeço porque a cada jogo que passava, me sentia mais parecida com
os desconhecidos na rua. Mais próxima do meu país, da minha gente.
Agradeço porque o desfecho traumático não anula a alegria vivida.
E por saber que vocês vão ter que encarar aqueles brasileiros de
momento, que até ontem tinham orgulho e hoje já acham que “isso é
Brasil”.
Mas não se preocupem, para nós também é difícil suportá-los. Tamo junto.
E o fato é que a tristeza é geral: do campo, do banco de reservas, da
arquibancada, do sofá da sala, do banco do bar, da sarjeta.
Mas, por favor, entendam, nós não estamos tristes com vocês, estamos tristes JUNTO com vocês.
E tanto é assim que posso garantir que milhares de brasileiros
queriam poder dar em vocês hoje o abraço que o David Luiz deu no James
depois da eliminação da Colômbia.
Obrigada, meninos.
Obrigada por me lembrarem que eu nunca quis ser europeia. Alemã,
holandesa, francesa, belga… Nem que me dessem um belo par de olhos
claros.
Que o que eu quero sempre é minha camisa amarela, minhas emoções
escancaradas, quero o choro embriagado de hoje, esquizofrenicamente
orgulhoso de ser quem somos até quando estamos apanhando como apanhamos.
Abracem seus pais. Seus filhos. Suas mulheres. Seus amigos.
Façam isso por nós, que queríamos abraçá-los talvez até mais do que iríamos querer se ganhássemos a Copa.
E continuem sendo assim, brasileiros, acima de tudo.
No cabelo enrolado, nas danças no vestiário, nos abraços verdadeiros,
nos choros sofridos, na oração sincera e na certeza de que, bem ou mal,
a gente segue em frente.
7 a 1? Dane-se.
Vocês me representam. E não é pela bola que jogam, é pelos caras que são.
Ruth Manus
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