arte de Vyacheslav Khabirov
"Ao perceber que meus pais estavam envelhecendo, em
determinado momento achei que tinha de assumir também o comando da vida deles.
Considerei que, para ser uma boa filha, tinha de ter todas as respostas. Ou,
invertendo o lugar, me apropriar do famigerado
“eu sei o que é melhor para eles”.
Aos poucos fui percebendo que estava me
tornando uma chata pretensiosa. Com tanto medo que eles quebrassem que queria
carregá-los no colo, mas minha estropiada coluna vertebral mal dá conta de
sustentar meu próprio peso.
Com a gentileza que lhes é peculiar, meus pais escutavam meus palpites e minhas pregações e, claro, faziam exatamente o que queriam. Devagar fui me dando conta de que era só o que faltava ter vivido e experimentado tanto para chegar à velhice e ter de suportar uma filha tentando mandar neles.
Com a gentileza que lhes é peculiar, meus pais escutavam meus palpites e minhas pregações e, claro, faziam exatamente o que queriam. Devagar fui me dando conta de que era só o que faltava ter vivido e experimentado tanto para chegar à velhice e ter de suportar uma filha tentando mandar neles.
Percebi que o
importante era estar por perto não só para o que fosse preciso, mas pelo prazer
da companhia, e continuar capaz de escutá-los. Se precisam da minha ajuda, eles
mesmos me dizem – não só com palavras, mas de maneiras mais sutis. E se fazem
coisas que eu considero mais arriscadas, tanto a decisão quanto o risco
continuam sendo deles, como sempre foram. Não por minha majestosa concessão,
mas porque não tenho nenhum direito de impor qualquer vontade. Se depois de me
tornar adulta eu nunca permiti que meus pais interferissem de forma autoritária
na minha vida, por que é que eu me acharia no direito de me meter de forma
autoritária na deles quando estão envelhecendo?
Escutar de verdade ainda é o
começo e o fim de qualquer relação de respeito mútuo – e de amor."
Eliane Brum
"A
frase clássica dos pais bacanas, que hoje estão nos 70, 80 anos, é:
“Não quero dar trabalho para os meus filhos dependendo deles”. Ou: “Não
quero incomodar os meus filhos”.
A frase da minha geração – e que já se anuncia na boca dos velhos do cinema – é outra:
– Incomodar os meus filhos? Nem me importaria. O que não quero é que os meus filhos me incomodem!"
Eliane Brum
A frase da minha geração – e que já se anuncia na boca dos velhos do cinema – é outra:
– Incomodar os meus filhos? Nem me importaria. O que não quero é que os meus filhos me incomodem!"
Eliane Brum
Nenhum comentário:
Postar um comentário