Arte Marta Penter
“O
que me horroriza, mais do que os grandes massacres estampados no noticiário,
são essas pequenas maldades do cotidiano. E só consigo compreender os grandes
massacres a partir dos pequenos massacres de todo dia. Os risinhos e dedos que
apontam, os cotovelos que se cutucam.
Quem
pratica os massacres miúdos do dia a dia é gente que se acha do bem, que não
cometeu nenhum delito, que vai trabalhar de manhã e dá presente de Natal. Gente
com quem você pode conversar sobre o tempo enquanto espera o ônibus, que
trabalha ao seu lado ou bem perto de você, e às vezes até lhe empresta o creme
dental no banheiro. É destes que eu tenho mais medo, é com estes que eu não sei
lidar.
"(...)
acho que o mundo seria melhor – e a vida doeria um pouco menos – se cada um se
esforçasse para vestir a pele do outro antes de rir, apontar e cutucar o colega
para que não perca a chance de desprezar um outro, em geral mais vulnerável.
Antes de julgar e de condenar. Antes de se achar melhor, mais esperto e mais
inteligente. Vestir a pele do outro no minuto anterior ao salto na jugular.'
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