quarta-feira, 21 de outubro de 2009

20 de outubro: dia do poeta.Obrigado a TODOS que me fazem voar fora da asa....

 
"Poesia é voar fora da asa." 

Manuel de Barros 

No Brasil, a poesia ao longo dos séculos, passou por várias escolas até chegar na atualidade. É pós-modernismo, onde não temos mais regras para a produção poética, seguindo o estilo de cada autor. 
Eu, particularmente,gosto da poesia existencial que trata de temas como experiências da vida, como a angústia, a dúvida, a solidão, a velhice, a morte. 
No modernismo brasileiro,Drummond, me oferece muito desse tipo de poesia. 
Versos à boca da noite 

“Sinto que o tempo sobre mim abate sua mão pesada. Rugas, dentes, calva... Uma aceitação maior de tudo, e o medo de novas descobertas. Escreverei sonetos de madureza ? Darei aos outros a ilusão de calma? Serei sempre louco? sempre mentiroso ? Acreditarei em mitos ? Zombarei do mundo ? Há muito suspeitei o velho em mim. Ainda criança, já me atormentava. Hoje estou só. Nenhum menino salta de minha vida, para restaurá-la. Mas se eu pudesse recomeçar o dia ! Usar de novo minha adoração, meu grito, minha fome... Vejo tudo impossível e nítido, no espaço. Lá onde não chegou minha ironia, entre ídolos de rosto carregado, ficaste, explicação de minha vida, como os objetos perdidos na rua. As experiências se multiplicaram: viagens, furtos, altas solidões, o desespero, agora cristal frio, a melancolia, amada e repelida, e tanta indecisão entre dois mares, entre duas mulheres, duas roupas. Toda essa mão para fazer um gesto que de tão frágil nunca se modela, e fica inerte, zona de desejo selada por arbustos agressivos. (Um homem se contempla sem amor, se despe sem qualquer curiosidade.) Mas vêm o tempo e a idéia de passado visitar-te na curva de um jardim. Vem a recordação, e te penetra dentro de um cinema, subitamente. E as memórias escorrem do pescoço, do paletó, da guerra, do arco-íris; enroscam-se no sono e te perseguem, à busca de pupila que as reflita. E depois das memórias vem o tempo trazer novo sortimento de memórias, até que, fatigado, te recuses e não saibas se a vida é ou foi. Esta casa, que miras de passagem, estará no Acre ? na Argentina ? em ti ? que palavra escutaste, e onde, quando ? seria indiferente ou solidária ? Um pedaço de ti rompe a neblina, voa talvez para a Bahia e deixa outros pedaços, dissolvidos no atlas, em País-do-riso e em tua ama preta. Que confusão de coisas ao crepúsculo ! Que riqueza ! sem préstimo, é verdade. Bom seria captá-las e compô-las num todo sábio, posto que sensível: uma ordem, uma luz, uma alegria baixando sobre o peito despojado. E já não era o furor dos vinte anos nem a renúncia às coisas que elegeu, mas a penetração no lenho dócil, um mergulho em piscina, sem esforço, um achado sem dor, uma fusão, tal uma inteligência do universo comprada em sal, em rugas e cabelo.” 

Carlos Drummond de Andrade, 1962 20 de outubro: dia do poeta. 


 Obrigado a TODOS que me fazem voar fora das asas....

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