Arte de Chrissie Snelling
"O pior é que ainda tem gente que acredita na receita da família
perfeita. Bobagem. Tudo ilusão. Não existe "Família à Oswaldo Aranha",
"Família à Rossini", "Família à Belle Meunière" ou "Família ao Molho
Pardo" - em que o sangue é fundamental para o preparo da iguaria.
Família é afinidade, é "À Moda da Casa". E cada casa gosta de preparar a
família a seu jeito.
Há famílias doces. Outras, meio amargas. Outras, apimentadíssimas. Há também as que não têm gosto de nada - seriam
assim um tipo de "Família Diet", que você suporta só para manter a
linha. Seja como for, família é prato que deve ser servido sempre
quente, quentíssimo. Uma família fria é insuportável, impossível de se
engolir.
Há famílias, por
exemplo, que levam muito tempo para serem preparadas. Fica aquela
receita cheia de recomendações de se fazer assim ou assado - uma
chatice! Outras, ao contrário, se fazem de repente, de uma hora para
outra, por atração física incontrolável - quase sempre de noite. Você
acorda de manhã, feliz da vida, e quando vai ver já está com a família
feita. por isso é bom saber a hora certa de abaixar o fogo. Já vi
famílias inteiras abortadas por causa de fogo alto.
Enfim, receita de família não se copia, se inventa. A gente vai aprendendo aos poucos, improvisando e transmitindo o que sabe no dia-a-dia. A gente cata um registro ali, de alguém que sabe e conta, e outro aqui, que ficou no pedaço de papel. Muita coisa se perde na lembrança. Principalmente, na cabeça de um velho já meio caduco como eu. O que este veterano cozinheiro pode dizer é que, por mais sem graça, por pior que seja o paladar, família é prato que você tem que experimentar e comer. Se puder saborear, saboreie. Não ligue para etiquetas. Passe o pão naquele molhinho que ficou na porcelana, na louça, no alumínio ou no barro. Aproveite ao máximo. Família é prato que, quando se acaba, nunca mais se repete."
Trecho do livro "O Arroz de Palma", de Francisco Azevedo
Enfim, receita de família não se copia, se inventa. A gente vai aprendendo aos poucos, improvisando e transmitindo o que sabe no dia-a-dia. A gente cata um registro ali, de alguém que sabe e conta, e outro aqui, que ficou no pedaço de papel. Muita coisa se perde na lembrança. Principalmente, na cabeça de um velho já meio caduco como eu. O que este veterano cozinheiro pode dizer é que, por mais sem graça, por pior que seja o paladar, família é prato que você tem que experimentar e comer. Se puder saborear, saboreie. Não ligue para etiquetas. Passe o pão naquele molhinho que ficou na porcelana, na louça, no alumínio ou no barro. Aproveite ao máximo. Família é prato que, quando se acaba, nunca mais se repete."
Trecho do livro "O Arroz de Palma", de Francisco Azevedo
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