Arte de Paul Kelley
(...) Se for uma dor
interna, tomar um analgésico e esperar que passe. Não se pode dialogar com a
dor física. Músculos, nervos, órgãos, pele, essa turma não escuta ninguém.
Ainda bem que (com exceção das dores crônicas) não são dores constantes, e sim
pontuais. De repente, somem.
Já a dor psíquica não
é tão breve. Pode durar semanas. Meses. Sem querer ser alarmista, pode durar
uma vida. Porém, ela é mais elegante que a dor física: nos dá a chance de
chamá-la para um duelo, ao contrário da outra, que é um ataque covarde. A dor
psíquica possibilita um diálogo, e isso torna a luta menos desigual. São dois
pesos-pesados, sendo que você é o favorito. Escolha suas armas para vencê-la.
Armas? Por exemplo:
redija cartas para si mesmo. Escreva sobre o que você sente e depois planeje
seus próximos passos. Escrever exorciza, invoca energia. Cartas e cartas para
si mesmo, estabelecendo uma relação íntima entre você e sua dor –amanse-a.
Terapia. A cura pela
fala. Você buscando explicar em palavras como foi que permitiu que ela ganhasse
espaço para se instalar, de onde você imagina que ela veio, quem a ajudou a se
apoderar de você.
Uma investigação
minuciosa sobre como ela se desenvolveu e sobre a acolhida que recebeu: sim,
nós e nossas dores muitas vezes nos tornamos um só. É difícil a gente se
apartar do que nos dói, pois às vezes é a única coisa que dá sentido à nossa
vida.
(...)Quem não dialoga com sua dor
psíquica, não a reconhece como a inimiga admirável que é, capaz de torná-lo um
ser humano melhor. A reduz a uma simples dor de dente e, como uma criança,
desespera-se sozinho no escuro.”
Martha Medeiros
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