sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Na altura dos anos a gente se dá conta que transpira urgências.




 Arte de Gustavo Aimar

 "Na altura dos anos a gente se dá conta que transpira urgências.
E vai se enternecendo de si mesmo.
Não se tem mais necessidade de ser aprovado por ninguém,
passa a querer aprovar-se.
Se dá conta, as lutas são internas, são entre deixar-se cativar pela simplicidade,
ou continuar mantendo a marra de ser e ter.
Vai vendo que o que vale mesmo são as pequenas conquistas,
as pequenas alegrias,
as pequenas gentilezas,
vai tomando senso de quão pequeno é.
Contabiliza mais o que não fez do que o que já fez.
E passa a ter um temor silencioso de que pode não dar tempo da pele arrepiar com mais nada.
Respira-se urgências.
E aguçamos os sentidos e a boca sai salivando,
por mais um dia,
mais um amigo,
mais um livro,
mais um abraço,
mais momento de afetos destravados.
E nos tornamos insones,
aforuxamos os olhos,
trememos mais o queixo, porque já sofremos tantos desertos.
Há quem diga que enfraquecemos.
Desaceleramos para poupar o coração,
e faz-se um clarão onde antes era uma imensidão de culpas.
 Mas mesmo com tantas urgências ainda é um embaraço encarar-se a si mesmo."


Eliana Holtz

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