Arte de Anne Cotterill
“(...) a verdade é que me tornei mais cauteloso com a
idade e a vida. Tal não significa que seja uma pessoa desconfiada ou não
arrisque escolhas até bastante ousadas. A minha cautela reside nas pessoas e
suas atitudes e não naquilo que depende apenas de mim. Aprendi a conhecer os carácteres e as
motivações, a distinguir o sonso do tímido, o cruel do estúpido, o hipócrita do
mentiroso, o arrogante do merdoso, o apaixonado do interesseiro, o simpático do
empático, o espontâneo do falso. Consegui proteger-me das pessoas sem
necessariamente ter de me esconder delas.
Consegui distinguir com os anos quem
falsamente diz querer-me bem e quem me quer unicamente por bem. Percebi que a
expectativa não pode sustentar as minhas atitudes porque me traz quase sempre
decepções difíceis de entender. Deixei de acreditar sem sentir, porque só
acredito naquilo que faz sorrir a minha alma. Prometi a mim mesmo não me deixar
influenciar por lágrimas e gargalhadas em excesso, porque constatei que na
maior parte das vezes escondem pessoas mentirosas e com vontade de atraiçoar. E
acima de tudo,para viver melhor comigo e os outros, proibi-me de fazer juízos
sobre mim ou seja mais quem for, precisamente porque acredito naqueles que
afirmam que o único juízo permitido é o de Deus a si próprio ou, se preferirem,
da vida a si mesma.”
José Micard Teixeira
José Micard Teixeira
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