quarta-feira, 30 de julho de 2014

Casar leva umas horas. Morar junto leva tempo. O tempo todo.



Arte de Grzegorz Ptak


CASAR E MORAR JUNTO


Casar e morar junto são duas coisas completamente diferentes. Não tem nada a ver com seu status no cartório. Tem a ver com entrega.


Você pode casar com todas as honras. Dar uma festa linda. Gastar os tubos na Lua de Mel. Se mudar com o marido para um apartamento lindo. pronto. decorado. cheio de almofadas em cima da cama… Vocês podem ter se casado – mas vão demorar muito pra saber o que é morar junto. Acho que existem casais que se casam com pompas, e nunca talvez tenham realmente morado juntos.


Morar junto é saber dividir. Saber cobrar. Saber ceder. Saber doar.


Morar junto é dividir as contas e as almas.


Morar junto é ter um pilha de louça pra lavar, depois de um dia terrível de 10 horas de trabalho. E o outro cantar com você para que, em um karaokê com detergente, o trabalho se torne divertido.


Morar junto é ter que assistir Homem Aranha no Telecine Action, e se esforçar para achar legal.


Morar junto é tomar banho junto.Transformar o chuveiro em uma cachoeira. (e o banheiro em um charco)

Morar junto é ouvir onde dói no outro. Do que ele sente medo. Onde ele é criança. O que o deixa frágil.


Morar junto é poder chorar sem parar. E ser ouvida. E cuidada. Mas é também rir. E achar graça em alguma coisa, quando o outro está pra baixo.


Morar junto é fazer contabilidade de frustrações, e saber quando não colocar na conta do outro.


Morar junto é demorar para levantar.


Morar junto não precisa de uma casa, e sim de um espaço.


Quem mora junto geralmente é solidário. Casar não. Qualquer um casa. Pra casar basta assinatura e champanhe. Casar leva umas horas. Morar junto leva tempo. O tempo todo.

Quando moramos juntos vemos o cabelo dele crescer e ela cortar uma franja.


Quando moramos juntos viramos adultos aos pouquinhos, dando um adeus doído ao adolescente que éramos.


Quando moramos junto mudamos junto. E o outro vira um outro diferente com os anos. E nós vamos aprendendo a amar aquela nova pessoa, todo dia.


Até o dia que, talvez, deixemos de morar juntos. 



Roberta Nader

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