domingo, 1 de junho de 2014

a fúria não passa de um disfarce, na realidade, está escondida a tristeza



Arte de  Damian Klaczkiewicz



"Num reino encantado havia um lindo bosque e, dentro dele, um lago de águas transparentes onde se refletiam todas as tonalidades do verde.

Nesse lugar maravilhoso, se acercaram para banhar-se, fazendo-se mútua companhia, a tristeza e a fúria. As duas tiraram as roupas e, nuas, entraram no lago. A fúria, apressada como sempre está a fúria, urgida sem saber por que, banhou-se rapidamente e, mais rapidamente ainda, saiu da água. Acontece que a fúria é cega, ou pelo menos não distingue claramente a realidade. Por isso, apressada e nua, pôs ao sair o primeiro vestido que encontrou. E aconteceu que aquele vestido não era o dela, mas o da tristeza...

E assim, vestida de tristeza, a fúria se foi.

Indolente e serena, disposta como sempre a ficar onde está, a tristeza terminou o seu banho e, sem pressa, lenta e preguiçosamente, saiu da água. Na margem, deu-se conta de que a sua roupa já não estava ali. Mas, como todos sabemos, se há coisa que não agrada à tristeza, é ficar desnuda. Por isso, vestiu a única roupa que havia por ali: o vestido da fúria.

Conta-se que, desde então, muitas vezes deparamos com a fúria, intransigente, cega, cruel e agastada. Mas, se olharmos com atenção, veremos que essa fúria não passa de um disfarce e que, por trás do disfarce da fúria, na realidade, está escondida a tristeza".

Um conto de Jorge Bucay

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