domingo, 16 de fevereiro de 2014

uma coisa é certa: quando sair da tempestade, você já não será mais o mesmo que caminhou por dentro dela.



Arte de Gary kapluggin


“Às vezes, o destino é como uma tempestade de areia que o faz mudar de direção.
você pode tomar outro caminho, mas o fenômeno o atrapalha.
você volta a mudar de rumo, mas a intempérie o desvia novamente. Ela brinca por cima de você como uma agourenta dança com a morte pouco antes da aurora. Por quê?
Porque a tempestade não é algo que sopra longe, algo que não tem nada a ver com você. Essa tempestade é você. É algo dentro de você. Assim, tudo o que se pode fazer é render-se a ela, andar a passos firmes em meio a ela, fechando os olhos e protegendo os ouvidos, e caminhar através dela, um passo de cada vez. Dentro da tempestade não brilha o sol nem a lua, não há direção nem sensação de tempo. Só há a fina e branca areia redemoinhando-se para o céu como ossos pulverizados. [...]
E, uma vez amainada a tempestade, você não se lembrará de como se livrou dela, de como conseguiu sobreviver. Na verdade, não terá certeza de que a tempestade realmente cessou. Mas uma coisa é certa: quando sair da tempestade, você já não será mais o mesmo que caminhou por dentro dela. Essa é a essência da tempestade.

Allan Percy in: Kafka para sobrecarregados
 

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