Arte de Cecile Veilhan
"Até abraçar, desaprendemos. Ninguém mais abraça com
vontade. Com sinceridade de velório. Odeio abraço falso, como aquele beijo de
frígida, no qual a face bate na face e os lábios se transformam em beiço.
Abraço tem que ter pegada, jeito, curva. Aperto suave, que pode virar colo.
Alento tenso, que pode virar despedida. É pelo abraço que testo o caráter do
outro. Não confio em quem logo dá tapinhas
nas costas. A rapidez dos toques indica a maldade da
criatura. Não sou porta para bater. Nem madeira para espantar azar. Abraço com
toquinho é hipócrita. É abraço de Judas. De traidor. O sujeito mal encosta a
pele e quer se afastar. Pede espaço porque não suporta os pecados dos
pensamentos.Devemos fechar os olhos no abraço, respirar a roupa do abraçado,
descobrir o perfume e a demora no banho. Abraço não pode ser rápido senão é
empurrão. Requer cruzamento dos braços e uma demora do rosto no linho. Abraço é
para atravessar o nosso corpo. Ir para a margem oposta. Nadar para ilha e subir
ao topo da pedra pela gratidão de sopro.
Sou adepto a inventar abraços. Criar
abraços. Inaugurar abraços. Realizar um dicionário de abraços. Um idioma de
abraços. O meu é o de cadeira de balanço. Giro nas pontas dos pés. Não largo,
os primeiros minutos são para sufocar, os demais servem para o enlaçado se
recuperar do susto. Não entendo onde terminará o abraço. Se a pessoa vai chorar
ou vai rir. Abraço é confissão. Dez minutinhos de sol e de liberdade."
Fabrício Carpinejar
Fabrício Carpinejar
Um comentário:
Maravilhoso!!!
beijos
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