quinta-feira, 4 de março de 2010

Sinto-me nascido a cada momento para a eterna novidade do mundo

 
O Meu Olhar O meu olhar é nítido como um girassol. 
Tenho o costume de andar pelas estradas 
Olhando para a direita e para a esquerda, 
E de, vez em quando olhando para trás... 
 E o que vejo a cada momento 
 É aquilo que nunca antes eu tinha visto, 
E eu sei dar por isso muito bem... 
 Sei ter o pasmo essencial 
Que tem uma criança se, ao nascer, 
Reparasse que nascera deveras... 
Sinto-me nascido a cada momento 
Para a eterna novidade do Mundo... 
Creio no mundo como num malmequer, 
Porque o vejo. 
Mas não penso nele 
Porque pensar é não compreender ...
O Mundo não se fez para pensarmos nele (Pensar é estar doente dos olhos) 
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...
 Eu não tenho filosofia: tenho sentidos... 
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é, 
Mas porque a amo, e amo-a por isso, 
Porque quem ama nunca sabe o que ama 
Nem sabe por que ama, nem o que é amar ... 
Amar é a eterna inocência, 
 E a única inocência não pensar... 

Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa in "O Guardador de Rebanhos"

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