
Eu hoje estou inabitável...
Não sei por quê,
levantei com o pé esquerdo:
o meu primeiro cigarro amargou
como uma colherada de fel;
A tristeza de vários corações bem tristes
veio, sem quê, nem por quê,
encher meu coração vazio... Vazio.
Eu hoje estou inabitável...
A vida está doendo... Doendo...
A vida está toda atrapalhada...
Estou sozinho numa estrada
fazendo a pé um raid impossível.
Ah! Se eu pudesse me embebedar
E cambalear... Cambalear...
cair, e acordar desta tristeza
que ninguém, ninguém sabe.
Todo mundo vai rir destes meus versos,
mas jurarei por Deus, se for preciso:
eu hoje estou inabitável.
Abgar Renault
[...]Uma esquizofrenia teológica, eu sei, quando fica tudo confuso assim, meu descanso é recolher-me como um tatu-bola e repetir até passar a crise, Senhor, tem piedade de mim. Até em sonhos repito, Senhor, tem piedade de mim, é perfeito. Sensação de confinamento outra vez, minha pele, minha casa, paredes, muro, tudo me poda, me cerca de arame farpado.[...]
Adélia Prado, in: Quero Minha Mãe
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