domingo, 28 de março de 2010

Eu hoje estou inabitável. Senhor, tem piedade de mim



Eu hoje estou inabitável... Não sei por quê, levantei com o pé esquerdo: o meu primeiro cigarro amargou como uma colherada de fel; A tristeza de vários corações bem tristes veio, sem quê, nem por quê, encher meu coração vazio... Vazio. Eu hoje estou inabitável... A vida está doendo... Doendo... A vida está toda atrapalhada... Estou sozinho numa estrada fazendo a pé um raid impossível. Ah! Se eu pudesse me embebedar E cambalear... Cambalear... cair, e acordar desta tristeza que ninguém, ninguém sabe. Todo mundo vai rir destes meus versos, mas jurarei por Deus, se for preciso: eu hoje estou inabitável. 

Abgar Renault 


[...]Uma esquizofrenia teológica, eu sei, quando fica tudo confuso assim, meu descanso é recolher-me como um tatu-bola e repetir até passar a crise, Senhor, tem piedade de mim. Até em sonhos repito, Senhor, tem piedade de mim, é perfeito. Sensação de confinamento outra vez, minha pele, minha casa, paredes, muro, tudo me poda, me cerca de arame farpado.[...] 

Adélia Prado, in: Quero Minha Mãe

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