Quatro poetas estavam sentados em volta de uma jarra de vinho que se achava numa mesa.
Disse o primeiro poeta:
- Parece-me ver, com meu terceiro olho, a fragrância deste vinho pairando espaço como uma nuvem de pássaros numa floresta encantada.
O segundo poeta ergueu a cabeça e disse:
- Com meu ouvido interno, posso ouvir pássaros de névoa cantando. E a melodia prende-me o coração como a rosa branca aprisiona a abelha dentro de suas pétalas.
O terceiro poeta fechou os olhos e estendeu os braços para o alto e disse:
- Toco-o com minha mão. Sinto-lhe as asas roçarem nos meus dedos como o respirar de uma fada adormecida.
Então o quarto poeta levantou-se e ergueu a jarra, e disse:
- Ai de mim, amigos! Sou muito obtuso de vista e de ouvido e tato. Não posso ver a fragrância deste vinho, nem ouvir sua canção, nem sentir o bater de suas asas. Só percebo o próprio vinho.
E levando o jarro aos lábios, bebeu o vinho até a última gota.
Os três poetas, com as bocas abertas, olharam-no, estupefatos, e havia em seus olhos um ódio sedento, nada lírico.
Khalil Gibran, in O Percursor, pag.54
Sou muito obtusa também! Quero beber até a última gota...
Ergo um brinde!
FELIZ 2009!
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