Arte de Henry Battle
Vivemos engaiolados, tendo sempre que seguir o padrão, que se
encaixar em normas pré-determinadas, como se fôssemos todos iguais.
Sendo assim, a vida acaba se transformando em uma grande linha de
produção, em que todos têm que fazer as mesmas coisas, ao mesmo tempo e
no mesmo ritmo, de modo a tornar todos iguais, sem qualquer
peculiaridade que possa definir um indivíduo de outro e, por
conseguinte, torná-lo especial em relação aos demais.
Somos
enjaulados em vidas superficiais e nos tornamos seres superficiais,
totalmente desinteressantes, inclusive, para nós mesmos. Sempre
conversamos sobre as mesmas coisas com quer que seja, ouvindo respostas
programadas pelo padrão, o qual nos torna seres adequados à vida em
sociedade.
Entretanto, para que serve uma adequação que transforma todos em um
exército de pessoas completamente iguais e chatas, que procuram sucesso
econômico, enquanto suas vidas mergulham em depressões?
Qual o
sentido de adequar-se a uma sociedade que mata sonhos, porque eles
simplesmente não se encaixam no padrão? Uma sociedade que prefere
teatralizar a felicidade a permitir que cada um encontre as suas
próprias felicidades. Uma sociedade que possui a obrigação de sorrir o
tempo inteiro, porque não se pode jamais demonstrar fraqueza. Uma
sociedade que retira a inteligência das perguntas, para que nos
contentemos com respostas rasas. Então, por que se adequar?
Os
nossos cobertores já estão ensopados com os nossos choros durante a
madrugada. O choro silencioso para que ninguém saiba o quanto estamos
sofrendo. Para manter a farsa de que estamos felizes. Para fazer com que
mentiras soem como verdade, enquanto, na verdade, não temos sequer
vontade de levantar das nossas camas.
O pior de tudo isso é que
preferimos vidas de silencioso desespero a romper com as amarras que nos
aprisionam e nos distanciam daquilo que grita dentro de nós, esperando
aflitamente que o escutemos, a fim de que sejamos nós mesmos pelo menos
uma vez na vida sem a preocupação de agradar aos outros.
Somos uma
geração com medo de assumir as rédeas das próprias vidas. E, assim,
temos permitido que outros sejam protagonistas destas. É preciso coragem
para retomá-las e viver segundo aquilo que arde dentro de nós, mesmo
que sejamos vistos como loucos, pois só assim conseguiremos sair das
depressões que nos encontramos.
É preciso sacudir as gaiolas, já que, como diz Alain de Botton: “As pessoas só ficam realmente
interessantes quando começam a sacudir as grades de suas gaiolas”. E,
sobretudo, é preciso ser inadequado, porque não se adequar a uma
sociedade doente é uma virtude.
Erick Morais
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