Depois de passar 90 minutos economizando as últimas "bombinhas",
decidi sair por aquela porta e me desfazer delas. Pênalti? Como assim
pênalti? O que é isso? Eu quero é ver gol.
Era 94 e, no auge dos
meus dez anos e seis meses (adorava contar os meses), a única coisa que
importava era ver o Brasil campeão. Não conhecia as regras do jogo,
muito menos o que cada um fazia em campo, mas lá fora a rua estava
pintada e eu começava a achar o máximo esse lance de torcer.
O que girava
em torno daquele espetáculo, por um momento, ficava adormecido, pelo
menos era o que a maioria dos adultos deixava transparecer: naqueles
dias todo mundo tinha a mesma idade.
Um sentimento genuíno parecia pairar no ar junto com a fumaça dos fogos
de artifício. Todo mundo estava apaixonado. Envolvido com o esporte.
Podia ser uma espécie de alienação, mas era aquela alienação boa e
necessária, como tantas outras que nos fazem por um minuto sair um pouco
daqui.
Era só isso, ou melhor, tudo isso. Era tudo que a gente tinha capacidade de sentir. Pelo menos naqueles minutos, pelo menos a cada quatro anos. Curtir o esporte pelo puro prazer de curtir.
Vinte anos se passaram, e, ainda hoje, eu consigo sentir isso. Consigo ouvir uma música e me emocionar. Posso ver meus pelos do braço fazerem uma "ola" quando todo mundo sai do sofá, da mesa do bar, do chão, pra gritar gol.
Não, o país não está bacana. E essa indignação que se mistura com todas essas sensações que citei acima parecem perfeitamente compreensíveis e legítimas, compartilho de tudo isso também. Mesmo assim, não quero sentir vergonha por gostar de esporte, por amar futebol -- por que deveria? O que entretém não anula o que engaja. São forças diferentes.
É verdade, é um assunto delicado. Sim, estamos cansados. Mas devo mostrar nas pequenas coisas do cotidiano, durante as eleições, nas pequenas chances de não me corromper todos os dias, que quero um país diferente. Na hora do jogo, pelo menos naquele momento, eu quero o mesmo país de 94. Pelo menos nas ruas e dentro do campo.
Fernanda Gaona
Era só isso, ou melhor, tudo isso. Era tudo que a gente tinha capacidade de sentir. Pelo menos naqueles minutos, pelo menos a cada quatro anos. Curtir o esporte pelo puro prazer de curtir.
Vinte anos se passaram, e, ainda hoje, eu consigo sentir isso. Consigo ouvir uma música e me emocionar. Posso ver meus pelos do braço fazerem uma "ola" quando todo mundo sai do sofá, da mesa do bar, do chão, pra gritar gol.
Não, o país não está bacana. E essa indignação que se mistura com todas essas sensações que citei acima parecem perfeitamente compreensíveis e legítimas, compartilho de tudo isso também. Mesmo assim, não quero sentir vergonha por gostar de esporte, por amar futebol -- por que deveria? O que entretém não anula o que engaja. São forças diferentes.
É verdade, é um assunto delicado. Sim, estamos cansados. Mas devo mostrar nas pequenas coisas do cotidiano, durante as eleições, nas pequenas chances de não me corromper todos os dias, que quero um país diferente. Na hora do jogo, pelo menos naquele momento, eu quero o mesmo país de 94. Pelo menos nas ruas e dentro do campo.
Fernanda Gaona
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