Arte de Elena Shumakova
“Estamos todos numa solidão e numa multidão ao mesmo tempo.”
Zygmunt Bauman
O sociólogo
polonês Zygmunt Bauman declara que vivemos em um tempo que escorre pelas
mãos, um tempo líquido em que nada é para persistir. Não há nada tão intenso
que consiga permanecer e se tornar verdadeiramente necessário. Tudo é
transitório. Não há a observação pausada daquilo que experimentamos, é preciso
fotografar, filmar, comentar, curtir, mostrar, comprar e comparar.
O desejo
habita a ansiedade e se perde no consumismo imediato. A sociedade está marcada
pela ansiedade, reina uma inabilidade de experimentar profundamente o que nos
chega, o que importa é poder descrever aos demais o que se está fazendo.
Em tempos de
Facebook e Twitter não há desagrados, se não gosto de uma declaração ou um
pensamento, deleto, desconecto, bloqueio. Perde-se a profundidade das relações;
perde-se a conversa que possibilita a harmonia e também o destoar. Nas relações
virtuais não existem discussões que terminem em abraços vivos, as discussões
são mudas, distantes. As relações começam ou terminam sem contato algum.
Analisamos o outro por suas fotos e frases de efeito. Não existe a troca
vivida.
Ao mesmo
tempo em que experimentamos um isolamento protetor, vivenciamos uma absoluta
exposição. Não há o privado, tudo é desvendado: o que se come, o que se compra;
o que nos atormenta e o que nos alegra.
O amor é
mais falado do que vivido. Vivemos um tempo de secreta angustia.
Filosoficamente a angustia é o sentimento do nada. O corpo se inquieta e a alma
sufoca. Há uma vertigem permeando as relações, tudo se torna vacilante, tudo
pode ser deletado: o amor e os amigos.
Luciana
Chardelli
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