Arte de Grzegorz Ptak
“(...) Virou exagero se
doar. A ordem agora é se emprestar. Toma aí um pouquinho de mim, mas devolve.
Resultado? Um sem número
de relacionamentos à distância. Os dois sentados à mesma mesa, mas cada um
teclando um smartphone. Os dois saindo de férias, mas cada um para um destino
diferente. Os dois com problemas, mas sem disposição para conversar a respeito,
já que a ordem é pegar leve. Os dois com muitos planos, mas sem nenhuma
intenção de abrir mão do seu sonho em função do sonho do outro. Os dois com
dúvidas, mas sem reparti-las para não ter que se explicar muito. Os dois
juntos, mas não por inteiro, que nada mais é inteiro, tudo é fragmentado.
É uma contingência dos novos
tempos, o que não impede que a relação evolua.
Que deixe de ser um namorico,
uma ficada, um rolo, um lance, um caso, uma pegação, uma historinha para,
aleluia, virar amor. E amor a gente não empresta, entrega de bandeja.
Distância? Que distância? Não importa onde estivermos, será suprimida por uma
palavra que não é moderna nem antiga e que sempre nos unificará: vínculo.”
Martha Medeiros
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