Arte de Dina Goldstein
"Acho um desserviço essa coisa de final feliz. Primeiro, porque a
gente não sabe quando é o final. Segundo, porque felicidade instantânea e
eterna não existe em uma vida a dois. Lá na novela que você assiste
confortavelmente no sofá de casa, a protagonista e o “esse cara sou eu”
se desencontraram, mas logo se ajeitam e vão ser felizes “ad infinitum”.
Ele não tem bafo, não deixa a tampa do vaso levantada, não esquece a
toalha molhada na cama, não deixa o tênis na sala, nunca está
cansado demais, não se atrasa, não viaja, sempre presta atenção no que
ela diz, não tem defeito, não tem mania, não tem personalidade forte,
não é genioso, é um príncipe encantado irreal. O relacionamento deles
nunca é monótono, não tem rotina, não tem briga, não tem discussão, não
tem cara feia, não tem diferença, não tem descompasso. Eles se dão bem
na cama, na mesa e no banho. Todo santo dia. Ela sempre goza, ele sempre
tem vontade, ela lava, passa, cozinha, bate um bolo, se perfuma, malha e
sorri. Tudo nos trinques."
Clarissa Corrêa
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