Arte de Damian Klaczkiewicz
"Num reino encantado havia um
lindo bosque e, dentro dele, um lago de águas transparentes onde se refletiam
todas as tonalidades do verde.
Nesse lugar maravilhoso, se acercaram
para banhar-se, fazendo-se mútua companhia, a tristeza e a fúria. As duas tiraram
as roupas e, nuas, entraram no lago. A fúria, apressada como sempre está a
fúria, urgida sem saber por que, banhou-se rapidamente e, mais rapidamente
ainda, saiu da água. Acontece que a fúria é cega, ou pelo menos não distingue
claramente a realidade. Por isso, apressada e nua, pôs ao sair o primeiro
vestido que encontrou. E aconteceu que aquele vestido não era o dela, mas o da
tristeza...
E assim, vestida de tristeza, a fúria
se foi.
Indolente e serena,
disposta como sempre a ficar onde está, a tristeza terminou o seu banho e, sem
pressa, lenta e preguiçosamente, saiu da água. Na margem, deu-se conta de que a
sua roupa já não estava ali. Mas, como todos sabemos, se há coisa que não
agrada à tristeza, é ficar desnuda. Por isso, vestiu a única roupa que havia
por ali: o vestido da fúria.
Conta-se que, desde
então, muitas vezes deparamos com a fúria, intransigente, cega, cruel e
agastada. Mas, se olharmos com atenção, veremos que essa fúria não passa de um
disfarce e que, por trás do disfarce da fúria, na realidade, está escondida a
tristeza".
Um
conto de Jorge Bucay
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