terça-feira, 14 de julho de 2009

Delicada como um elefante

Sei lá porque, mas estou em fase de montar meu quebra cabeça...fazer encaixes... 
A gente vai estudando, namorando, se formando, casando, tendo filhos, cuidando deles, trabalhando, conhendo pessoas, convivendo, compartilhando e se afastando.Cada qual cuidando das suas coisas, da sua vida. Normal! Quando a gente vê, a vida passou, muitas coisas aconteceram e a gente começa a ver as coisas mudando de rumo. Filhos fazendo sua vida, a gente tendo que refazer as nossas...sendo empurrado para novas direções. 
 Estou com uns dias de férias, e resolvi então encontrar pessoas que não via a muito tempo, que graças ao orkut se chegaram , se mostraram e eu sai ao encontro....sou mesmo assim...carente...Quis dar um abraço daqueles de quebrar as costelas. Do pensamento ao ato, foi só questão de acertar os dias. E lá me fui de braços abertos, sorriso no olhar e alma saltitante.Elas estavam perto de onde eu estava: Blumenau Foi muito bom encontrar Neusinha e depois Clarice. Eu amei! Até ai tudo bem. Na volta,estava lendo Martha Medeiros e li uma crônica que me fez ficar vermelha de vergonha. Explico: 'Para estar ao lado sem pesar com a presença'. Uau! Fui sem sensibilidade! Neusinha, mil desculpas! Eu te avisei e fui....Ui! Pesei? Mil desculpas então. Se te pesei , estou leve como uma pluma...A saudade deu lugar para nossa amizade que o tempo não destruiu. E a Clarice? Foi me buscar em casa para tomar café colonial. Dividiu esses momentos com a família e eu...Que delícia! Ah! Que bom que não fui fresca. Mas prometo como boa aprendiz, depois desse toque refinado da minha xará e conterrânea Martha Medeiros serei sensível e terei cuidados. Poderei ser delicada como um elefante, mas serei delicada. juro! Ainda é tempo de aprender. Eis meu motivo de "mea culpa"

 "Estava lendo o novo livro do Paulo Hecker Filho, Fidelidades, onde, numa de suas prosas poéticas, ele conta que, antigamente, deixava bilhetes, livros e quindins na portaria do prédio do Mario Quintana: 'Para estar ao lado sem pesar com a presença'. Para a maioria das pessoas, isso que chamo de um raro estalo de sensibilidade tem outro nome: frescura. Afinal, todo mundo gosta de carinho, todo mundo quer ser visitado, ninguém pesa com sua presença num mundo já tão individualista e solitário. Ah, pesa. Até mesmo uma relação íntima exige certos cuidados. Eu bato na porta antes de entrar no quarto das minhas filhas e na de meu próprio quarto, se sei que está ocupado. Eu pergunto para minha mãe se ela está livre antes de prosseguir com uma conversa por telefone. Eu não faço visitas inesperadas a ninguém, a não ser em caso de urgência, mas até minhas urgências tive a sorte de que fossem delicadas. Pessoas não ficam sentadas em seus sofás aguardando a chegada do Messias, o que dirá a do vizinho. Pessoas estão jantando. Pessoas estão preocupadas. Pessoas estão com o seu blusão preferido, aquele meio sujo e rasgado, que elas só usam quando ninguém está vendo. Pessoas estão chorando. Pessoas estão assistindo a seu programa de tevê favorito. Pessoas estão se amando. Avise que está a caminho. Frescura, jura? Então tá, frescura, que seja. Adoro e-mails justamente porque são sempre bem-vindos, e posso retribuí-los sabendo que nada interromperei do lado de lá. Sem falar que encurtam o caminho para a intimidade. Dizemos pelo computador coisas que face a face seriam mais trabalhosas. Por não ser ao vivo, perde o caráter afetivo? Nem se discute que o encontro é sagrado. Mas é possível estar ao lado de quem a gente gosta por outros meios. Quando leio um livro indicado por uma amiga, fico mais próxima dela. Quando mando flores, vou junto com o cartão. Já visitei um pequeno lugarejo só para sentir o impacto que uma pessoa querida havia sentido, anos antes. Também é estar junto. Sendo assim, bilhetes, e-mails, livros e quindins na portaria não é distância: é só um outro tipo de abraço." 

Martha Medeiros

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