Arte de Rob Hefferan
CORDÃO UMBILICAL
As mães não são mais as mesmas.
Foi-se a época em que dedicavam 100% do seu tempo e do seu pensamento às
crianças: hoje preocupam-se com seu trabalho, com sua aparência, com sua vida
afetiva, e também com os filhos. O amor é o mesmo, mas aliviou-se o grude.
Tempos modernos.
Antes todo mundo ficava embaixo do mesmo teto, ou da mesma
árvore no quintal. Ninguém saía da quadra onde morava, e os olhos maternos
funcionavam como pardais eletrônicos. Nada escapava.
Hoje escapam todos. As
mães saem para um lado e os filhos para outro. Elas vão para o escritório, para
o shopping, o ateliê, o restaurante. Eles vão para aulas de natação, colégio,
casas de amigos, cinemas. Mães e filhos mal se vêem, mesmo morando juntos. No
entanto. uma coisa os manterá eternamente ligados, substituindo o cordão umbilical:
o telefone.
A Embratel tem muito a agradecer às mães, pois elas praticamente
sustentam o serviço. Mães ligam todos os dias para seus filhos, incluindo
finais de semana e feriados. Não há um único dia em que elas não tenham algo
para nos lembrar.
Filho, não esqueça de buscar o laptop na casa do seu irmão.
Filha, não esqueça de ligar para tia Antônia para agradecer o presente. Filho,
não esqueça da sua sinusite, marque uma hora no médico. Filha, não esqueça de
me trazer o livro assim que terminar. Filho, não esqueça de usar camisinha.
Filha, não esqueça de cortar o cabelo, sua franja está no nariz. Filho, não
esqueça do que aconteceu com o deputado, manere no cigarro. Filha, não esqueça
do que aconteceu com a Suzaninha, olho no teu marido.
Mães ligam no sábado para
convidar para o almoço. Mães ligam no domingo para saber se a lasanha não
estava muito salgada. Mães ligam na segunda para dizer que já estão com
saudades. Mães ligam na terça agradecendo a gente ter passado lá. Mães ligam
na quarta para comentar a novela. Mães ligam na quinta para avisar que vão a um
vernissage. Mães ligam na sexta para falar mal dos quadros. Mães ligam no
sábado para recomeçar.
Os filhos se queixam? Todos. Faz parte do programa.
Eles reclamam que a mãe pega no pé, que é onipresente, que não dá folga, mas
se ela fica 24 horas sem dar sinal de vida, eles chamam os bombeiros, a
brigada, o Ecco Salva: descubram onde está mamãe!
Eu falo com a minha mãe dia
sim, outro também. Se ela não liga, eu ligo. O assunto? Trivial requentado, e
está ótimo assim. Mãe pode fazer papel de padre, de psiquiatra, de irmã, de
filha, mas se sai bem mesmo é no papel de mãe, atenta e presente, mesmo quando
longe. Trabalhem, caríssimas mães, festejem, viajem, namorem, estudem,
caminhem, divirtam-se. Maternidade não é tudo. Mas continuem ligando para saber
se a gente chegou bem em casa.
Martha
Medeiros - Maio de 1998
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