Arte Mary Cassatt
“Boa parte de nossa infelicidade ou aflição nasce do fato
de vivermos rodeados (por vezes esmagados ou algemados) por mitos. Nem falo dos
belos, grandiosos ou enigmáticos mitos da Antiguidade grega. Falo, sim, dos
mitinhos bobos que inventou nosso inconsciente medroso, sempre beirando
precipícios com olhos míopes e passo temeroso. Inventam-se os mitos, ou
deixamos que aflorem, e construímos em cima deles a nossa desgraça.
Por exemplo, o mito da mãe-mártir. Primeiro engano: nem
toda mulher nasce para ser mãe, e nem toda mãe é mártir. Muitas são algozes,
aliás. Cuidado com a mãe sacrificial, a grande vítima, aquela que
desnecessariamente deixa de comer ou come restos dos pratos dos filhos, ou,
ainda, que acorda às 2 da manhã para fritar (cheia de rancor) um bife para o
filho marmanjo que chega em casa vindo da farra. Cuidado com a mãe atarefada
que nunca pára, sempre arrumando, dobrando roupas, escarafunchando armários e
bolsos alheios sob o pretexto de limpar, a mãe que controla e persegue como se
fosse cuidar, não importa a idade das crias. Essa mãe certamente há de cobrar
com gestos, palavras, suspiros ou silêncios cada migalhinha de gentileza. Eu,
que me sacrifiquei por você, agora sou abandonada, relegada, esquecida? E por
aí vai...
(...)se a gente começar a desmitificar algumas dessas
imagens internalizadas, começaremos a ser mais sensatamente felizes. Ou,
dizendo melhor: capazes de alegria com aquilo que temos e com o que podemos
fazer numa vida produtiva, porque real.
Lya Luft
Arte Mary Cassatt
2 comentários:
Belo texto, Lya sempre atenta e nos brindando com suas reflexões!!
Em tempos de dia das mães...achei bom "provocar" essa reflexão e quebrar paradigmas...obrigada pelo comentário Ana....mil beijos
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